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sábado, 14 de maio de 2011

A MOTIVAÇÃO DOS DESCOBRIMENTOS



Até ao século XIX, considerava-se que a principal motivação para as conquistas africanas em Marrocos tinha sido de ordem religiosa. O cronista Gomes Eanes de Zurara refere que os Infantes tinham as suas razões, os letrados as suas, mas a decisão cabia ao rei D. João I: “Eu não o teria por vitória, nem o faria em boa verdade, ainda que soubesse cobrar todo o mundo por meu, se não sentisse que em alguma maneira era serviço de Deus”. 
O motivo religioso, sobrepondo-se a todos os outros, foi como tal apontado, entre outros, por João de Barros, Luís de Camões, Gil Vicente.
As importantes rotas comerciais da seda e das especiarias, bloqueadas pelo Império Otomano em 1453 com a queda de Constantinopla, foi o que motivou a procura de um caminho marítimo pelo Atlântico, contornando a África.
Mapa das rotas comerciais portuguesas de Lisboa a Nagasaki (em japonês: transl. Nagasaki-ken) em 1580-1640.

Mas havia também outras razões para a conquista de Ceuta, mais de um século depois resumidas pelo carmelita Frei Amador Arrais, ligando-as à acção de D. Afonso IV na Batalha do Salado - “El-Rei Dom João o primeiro, começou a conquista de África, tomãdo Septa, Baluarte da Cristandade, & Chave de toda Hespanha, Porta do comércio do poente para levante."
O inimigo muçulmano dominava o Estreito e era poderoso em Granada. Pela sua posição geográfica, Ceuta era uma base naval que podia servir de apoio à navegação entre a península itálica e Portugal, permitindo também reprimir ou tolher a pirataria dos mouros nas costas do Atlântico.
No século XX, houve historiadores que julgaram o passado com as preocupações do presente, considerando a primazia do interesse económico: procurar acesso directo a fontes de fornecimento de trigo, de ouro ou de escravos no norte de África. Mas houve também historiadores, como David Lopes, rebatendo essa tese: "Ainda que Ceuta tivesse importância como centro de comércio, a sua conquista por cristãos desviaria dela o tráfico muçulmano".


As conquistas de Marrocos, porém, sob o impulso do Infante D. Henrique, vieram a dar lugar aos descobrimentos. Segundo Gomes Eanes de Zurara, na Crónica do descobrimento e conquista da Guiné (Capítulo VII), as expedições organizadas pelo Infante tinham cinco motivações:
1ª - Conhecer a terra além das Canárias e do cabo Bojador;
2ª - Trazer ao reino mercadorias;
3ª - Saber até onde chegava o poder dos muçulmanos;
4ª - Encontrar aliados que o pudessem ajudar numa guerra que durava há trinta e um anos;
5ª - Trazer para a fé de Cristo todas as almas que se quisessem salvar.
Se, com o Infante, ao avançar pela costa de África na direcção do sul, parece haver sobretudo a intenção de envolver pela retaguarda o grande poderio islâmico, adversário da Cristandade (uma estratégia militar e diplomática tributária do espírito das Cruzadas), a crescente intervenção dos "cavaleiros-mercadores" (Magalhães Godinho) nos reinados de D. Afonso V e D. João II, acabará por levar a expansão portuguesa até ao Oriente em busca das especiarias.


Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos, as trocas comerciais no Mediterrâneo de Veneza e de Génova ficaram muito reduzidas. O proveito de uma rota comercial alternativa mostrava-se recompensador. Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa. Quando se firma o projecto da descoberta do caminho marítimo para a Índia, a expansão portuguesa está já dominada pelo interesse comercial.


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